REDAÇÃO CENTRAL, 11 de jul de 2011 às 19:48
Em declarações à agência ACI Prensa este 11 de julho, o diretor do jornal vaticano L’Osservatore Romano (LOR), Giovanni Maria Vian, assinalou que após o fechamento do semanário britânico "News of the World" depois de 168 anos –e depois de que a opinião pública viesse a conhecer que suas exclusivas eram obtidas através da interceptação telefônica– os meios de comunicação necessitam com urgência da chamada "infoética".
Falando em seu escritório em Roma logo do escândalo gerado pelo conhecido semanário britânico, Vian afirmou que "foi muito lamentável o que aconteceu e News of the World foi um tanto a ponta do iceberg, mas é evidente que toda a informação, como dizia o próprio Papa na mensagem para a jornada da comunicação social, necessita um enfoque que permite falar de infoética, como se fala da bioética".
O semanário sensacionalista "News of the World", o mais vendido do Reino Unido e propriedade do magnata Rupert Murdoch, decidiu fechar suas operações com a publicação do seu último número no domingo 10 de julho.
A espionagem telefônica se remonta a 2002, quando a diretora era Rebekah Brooks, que agora é diretora geral do grupo News International –dono do News of the World que também possui o jornal The Sun– quem foi confirmada em seu posto por Murdoch.
O jornal britânico The Guardian revelou dias atrás que entre os telefones espiados estava o de Milly Dowler, uma estudante de 13 anos que havia sido seqüestrada em março de 2002 e que em realidade tinha sido assassinada quando o jornal espiava o correio de voz do seu telefone celular.
Conforme informa o jornal espanhol El Pais, o tablóide chegou inclusive a apagar algumas mensagens quando a caixa de correio de voz estava cheia para permitir a entrada de novas mensagens, o que fez que a família de Milly acreditasse que ela ainda estava viva e possivelmente tenha destruído provas vitais para os investigadores do seu seqüestro e posterior assassinato.
Também foram espiadas vítimas dos atentados de 7 de julho de 2005 em Londres e soldados falecidos nas guerras do Iraque e Afeganistão, além de políticos, esportistas e celebridades. A polícia confirmou que nos 11 000 documentos confiscados ao investigador privado que realizou as escutas figuram dados de mais de 4 000 pessoas.
Giovanni Maria Vian também disse à ACI Prensa que seu jornal preparou um editorial, escrito pelo sacerdote José María Gil Tamayo, quem foi diretor da comissão de mídia da Conferência Episcopal Espanhola durante 13 anos.
Nesta coluna se explica claramente a necessidade de que "sejam respeitados critérios éticos na informação. Antes da informação vêm as exigências de justiça e as exigências do respeito à dignidade de cada pessoa humana".
No editorial publicado para a edição de 12 de julho, o Pe. Tamayo, também membro do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, afirma que "as vítimas deste jornalismo sem escrúpulos (do News of the World) não são só os interceptados, mas toda a opinião pública e a mesma indústria da comunicação".
A primeira foi afetada "porque assim foi privada da informação à qual tem direitos, enquanto que a indústria também é afetada porque se golpeia o prestígio e a credibilidade no jornalismo, que é imprescindível nas sociedades livres e democráticas".
Depois de destacar a chamada do Papa Bento XVI a infoética nos meios, o sacerdote espanhol precisa que "o mais elementar sentido moral indica que o fim jamais justifica os meios e que os meios (de comunicação) não são âmbitos isentos ou dispensados da ética".
Para obter esta ética na mídia, explica o perito, é necessário um sério discernimento no que "a dignidade da pessoa e o bem comum sejam os verdadeiros critérios de valorização ética, sempre necessária para que a qualidade do produto comunicativo seja completa".
Assim, prossegue, "contribuir-se-á à formação de um público maduro, porque a responsabilidade ética não está apenas em quem faz a informação, quer dizer nos profissionais da comunicação, mas também nos destinatários".
Deste modo se chegará a uma verdadeira "liberdade de informação" que respeite a "genuína e inviolável dignidade humana que se traduza em códigos de conduta, em formas de autocontrole e de tutela jurídica e preserve uma verdadeira ‘ecologia’ ou (saúde ética) da comunicação social, indispensável para uma adequada e livre convivência democrática".
Para obter estes objetivos urge ademais uma saúde moral forte em toda a sociedade, que combata o relativismo que gera este tipo de situações como a que enfrenta News of the World.
Finalmente o Pe. Tamayo assinala que "as sérias carências antropológicas e éticas que determinadas ideologias deixaram como triste herança à sociedade contemporânea, só poderão ser superadas com um sincero e humilde retorno à verdadeira realidade moral e jurídica” e que “Deus não pode ser excluído dela porque é seu fundamento".